sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Sobre o Louvor e Adoração

Louvor e adoração agora parecem caracterizar o centro nevrálgico da liturgia evangélica contemporânea. Não se trata, na esfera místico-religiosa, da transposição do clamor da turba implicado no adágio panes et circenses? Se o Senso Comum solicita louvor e adoração, por que seria sensato contradizer-lhe? Segundo a opinião do povo, o pão e o circo representavam a generosidade do império romano. Do mesmo modo, parece ser generoso acreditar que tal modus operandi de louvor e adoração essencialize o processo litúrgico contemporâneo. Há, porém, um dado fundamental a ser questionado: por que o louvor e a adoração precisam ser considerados urgentemente objetos específicos de determinados ministérios? Por que não considerar a participação de todos no culto como sendo um fenômeno de louvor e adoração? Por que somente a música e canto outorgam para si o estatuto de louvor e adoração ? Não seria mais sensato admitir que a música e canto tenham o seu momento no processo litúrgico-cultual? Ou melhor dizendo: também os músicos e os cantores têm a sua participação no processo litúrgico-cultual. Todos os cristãos são adoradores de Deus, mas nem todos os cristãos são cantores ou músicos, isto é, nem todos estão envolvidos com a música e/ou canto no processo litúrgico-cultual ou ministerial. Há, na verdade, um exclusivismo dos músicos e cantores evangélicos, os quais discretamente reivindicam para si o atributo de adoradores, ignorando uma realidade meta-física essencial: todos aqueles que crêem verdadeiramente em Cristo são adoradores de Deus, quer sejam músicos, cantores, não-músicos ou não-cantores.

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