sábado, 1 de setembro de 2007

Reta Hermética

Estamos situados em uma reta hermética. À nossa esquerda, os interditos [est]éticos das simbologias arcaicas; à nossa direita, as aporias existenciais do Zeitgeist do de-vir. Nossa estrutura onto-lógica, movendo-se para a esquerda, presume-se imponente para questionar de modo imparcial as inadequações arqueológicas do Zeitgeist de outros tempos. Entretanto, constatamos uma espécie de náusea instaurada na consciência hodierna, que no plano implacável das conseqüências sociais corresponde ao des-crédito de tudo aquilo que possa parecer um projeto alicerçado em significações de ordem meta-física. Devido à nossa condição de insatisfeitos, passamos a mover a nossa estrutura ontológica para a direita, acreditando somente na evidência dos valores de ordem física. Agindo assim, intensificamos ainda mais o mal-estar característico das incoerências de um sistema alienante difundido pela sociedade de consumo, o qual depende da crença ingênua no mundo globalizado. Sob um determinado aspecto, nossa condição humana representa justamente a nossa incapacidade de analisar especularmente todas as variáveis instauradas no arcaico, no presente e no de-vir. Somos, vivemos e representamos a crise de um ponto inserido nessa reta. Somos indelevelmente o intervalo da incerteza... Somos as con[tra]dições da Contemporaneidade...

O Fundamento do Juízo Divino

Partindo do dado inquestionável de que julgamos injustamente as pessoas e somos julgados [também injustamente] por elas, tentemos imaginar como será fenomenal e extraordinário o impressionante Julgamento de D-us no preci[o]so contexto te[le]ológico. D-us, justamente por ser D-us, não se vale dos nossos critérios equivocados e impiedosos com roupagem de práksis cristã. Somente D-us é justo, imparcial, misericordioso, gracioso, fiel, amoroso e longânimo. Nós, seres humanos, devido aos retalhos do pecado, somos in-justos, parciais, implacáveis, in-fiéis, rancorosos e impacientes. Quem dentre nós ousaria não anelar comparecer perante o Tribunal de Cristo, haja vista que constatamos uma série de disparates entre nós, partindo de uma pretensa análise imparcial dos históricos existenciais que se apresentam ante os nossos olhos cansados e fadados à miopia, hipermetropia ou suas complexas variantes?
O Tribunal de Cristo – para os cristãos – e o Juízo do Trono Branco – para os não-cristãos – consubstanciam o grau máximo da Justiça operando segundo os ritmos da pulsação do coração de D-us. Um coração ancorado no Amor in-Condicional que contraria todos os princípios de uma agenda orgânico-funcional difundida, também e infelizmente, entre nós cristãos. Amor in-Condicional que, em hipótese alguma, pode se adequar ao estereótipo esforço-recompensa do santuário da Sociedade de Consumo… Por que somos propensos, em diversos contextos, a desconsiderar a possibilidade de tal Juízo Divino estar alicerçado no Amor in-Condicional ? Talvez não seja porque nós só conhecemos e praticamos o nosso amor condicional, crendo – inútil e tolamente – que a criatura serve de modelo para o Criador?…

O Propósito da Bi-Polaridade ou a Bi-Polaridade do Propósito?

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Enquanto isso, na sala de aula do curso de Propositologia para crianças de uma renomada igreja da classe média alta, um garotinho esperto chamado Gabriel propôs ao mestre Proposo o seguinte enigma:
Propositor, o que é, o que é? Se por para bater no liquidificador o propósito com a propo$ta, o que é que vamos ter?
Essa eu fico a lhe dever, Gabrielzinho, Respondeu o mestre.
Não acredito, propositor !!! O resultado dessa mistura só poderá ser a propó$ita, porque a letra I e o contraste entre o O e o A – com a predominância do A porque ele vem antes do O – fazem toda a diferença… Não é, propositor? Essa foi a extraordinária resposta do aprendiz de propositor.
Excelente, Gabrielzinho!!! Seu senso de combinação aleatória foi perfeito. Continue sempre assim. O mais importante mesmo, acima de tudo, é saber que Deus tem um propósito em todas as coisas… E assim, se não tivermos um propósito bem definido em nossas vidas, nós estamos pecando, de propósito… Certo, classe ?
Certo, mestre Proposo…

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Pois bem, meu prezado leitor… Por que esse desdém inveterado lhe invade a alma? Palavras difíceis e exemplos provenientes da mais pura abstração não aliviam a dor dos entes inseridos no universo pragmático… Alguém já lhe socorreu materialmente, tendo como inspiração algum princípio filantrópico proveniente do Teorema de Pitágoras ou do Conto Metamorfose de Kafka? Por que será que a sua resposta é NÃO? Mas é óbvio que eu lhe fiz esta pergunta de propósito… Tome cuidado… Você pode estar menosprezando um aspecto extremamente essencial no processo pedagógico entre o mestre Proposo e o seu pupilo, o pequeno Gabriel: às vezes, é necessário o mestre se fingir de tolo ou raso, tendo em vista tão somente o progresso de seu discípulo, pois todo mestre anela que seu discípulo prossiga rumo à excelência do saber e da virtude.
A Propositologia sempre reconhecerá os méritos do estimado mestre Proposo que, além de ser um expert em Propositologia, deixou registrado na historia dos eventos singulares uma lição de abdicação, tendo como alvo a intersecção entre a propo$ta e o propósito… O pequeno Gabriel, graças ao incentivo do mestre Proposo, certamente será um autêntico discípulo desta nobre Ciência que hoje em dia se apresenta para alavancar os ânimos abatidos daqueles que procuram agregar valor aos empreendimentos eclesiásticos. Logo, logo o pequeno Gabriel será também o propositor Gabriel… No mundo e nas igrejas ele será reconhecido como um homem de garra, empreendedor, batalhador… Talvez até quem saiba uma versão cristianizada do Bill Gates… Por que não? Tudo tem um propósito para aquele que crer assim… O propositor Gabriel poderá transitar como um batráquio, de propósito, tanto no mundo dos Negócios como no mundo das igrejas [este i minúsculo de “igrejas” é de propósito]… A Bi-Polaridade operando a serviço do Reino… Ele terá sempre a seu favor a cartilha dos números e a precisão inabalável dos índices estatísticos, pois no mundo dos Negócios, assim como também no mundo das igrejas, eles implicam autoridade inquestionável… Não nos esqueçamos de que para Taylor e para Ford as desculpas não geravam resultados satisfatórios… O Propósito, meus nobres operários, deve ser a Produção Eficiente, assim eles diziam… E esse dogma era provado e reverenciado infalivelmente através de números e estatísticas… Sem números e estatísticas, nada feito… Ford e Taylor: os arautos da simbiose essencial entre o número e a estatística… Mas voltando ao Gabrielzinho, que será o Gabriel… Há um outro detalhe que devemos ressaltar: como o pequeno Gabriel será incentivado a desenvolver uma índole de batráquio, certamente após tornar-se o propositor Gabriel, ele será apto para impressionar os dois mundos. Em um, a regra predominante, em tese, é ser cristão, transparente e competente; no outro, é ser raposão, dissimulador e competente… A competência do propositor Gabriel propiciar-lhe-á então o passaporte para, em diversas partes do mundo dos dois mundos, disseminar a Propositologia como sendo uma Ciência bi-lateral e amplamente funcional…
Como já dizia Gustavo Corção, o meu saudoso amigo: o fazer e o agir atualmente estão colocados no mesmo estanque semântico, consubstanciando assim alguns disparates sociais…
Eu sei que nada sou, mas mesmo assim ainda ouso fazer este acréscimo:….consubstanciando assim alguns disparates sociais, tanto no mundo dos Negócios como no mundo das igrejas…